domingo, 19 de maio de 2013

DesMinudessÊncias (MCeleste Carloto)


Homenagem ao guardião do imenso ínfimo 

Vestido pelas margens de Barros que o velho Manoel trilhou de pé-em-cabeça, Mil 96 anos frutificando sobrancelhas sob a noite de dezembro. Um começo não se sabe quando, desdia não importa. Tímido roseado, estrela-garça tresandejando rio-palavra virgem prenhe, formou-se em Torto a vida toda. Compendiando pássaros, encurtou águas para parir um Jabuti.

Quando um crôvio pingava trevas, manoelilava frases:

Um passarinho tinha vento e rodas de asfalto

QuiQuiQuiQuiviando protesto pelo silêncio envidraçado

Pensamento-gafanhoto: Nem a Primavera virá chuvisquiar peixinhos!

A tarde brotou pedra quando um escorpião mordeu a lata, que gritou azul como um tonto. Ou seria um poeta? No ermo sujo de pisadas humanas, o Senhor de nadifúndios ajoelhou a brisa e desmorreu a concha. Dês-pessoa mutável, cartografou sem-fim vozes do pântano plástico, onde a lata come o rio e o ar racha uma poça de parede, ensandecendo na língua as paisagens, pré-cantiga rupestre para pós-viver.

Fazendo tratados de infinidades, idéiaiara feita de frases e dentes e latas, transvendo ele morreu Bernardo andar-ilh(a) na trama das larvas do entardecer, para nascer desertos em asas de petúnias. Prendeu águas para alumiar o turvo, gotando pétalas abaixo ovas de sapos felizes, escreveu nenhumas para desexplicar os vagalumes.

Minudequenas.

Ântropo de inseto protagonizando chuvas, Bernardo franciscou irmão dos limos, sendo lesma para arvorizar-se. Híbrido de madrugadas e formigas vadias, sub-azul de palavras vareiadas, coisou vida de pedra.

Ontem é para ouvir futuros, agora é ocaso em estado de criança, menino-lúdico, pleno ludimenino. Teve a graça da cigarra e ela não fugiu Verão. Agora já só prisca poesia com joelhos silenciosos, peraltando a vida, porque pesaroso do dia tardo. Quando virar pássaro, será árvore? Tresandando existências, encolhe para a mãe-vida até o limo-primícia. Varejando verde-poesia, na lógica de olhar das aves, continua bebendo copos de sol para contaminar de versos os ossos das moscas.

Pervertendo o traste para virar sabiá, na voz de Bernardo vide Manoel do mato fino e da flor rasteira, apanhador de gotas de rio no canto das lagartixas, um besouro, nascendo pedra, se espicha ao céu. Fazedor de aluminesceres para chãzificar cacos de noite ao sol, beija-vento alimentando flor, fundido na voz da lua agarrando cheiros, tonto de fonte pinga-cor no sentido chão, aponta colarinhos que deixam o rio nu, meandros de vermes e vida desparamentada, um lápis escreve o rio que pinta o poeta. É da natureza do lápis transviar o invisível.

Papito temperado à ináugura frase-palavra, desapre(e)nde rapinando luar. Aspira devagarinho a luz sem suspensórios, verbo sem lantejoula, em decomposição, vaziando um útero pleno por nascer. Para inteliger a transgressão das palavras, prende raios de água nas unhas dos sapos. Desherói de si mesmo, afrodizia o rio em ensaios luminovagos. Descasca alma. Descalca. Ama letras como os lagartos gostam as pedras.

Primogênico de si próprio, Manoel antes letral de que sangue quebrando copos formais. Imaginação e um lápis para envelhecer o dia, colheu folhas decíduas nas veredas pantaneiras, polindo águas de campos pequenos e horizontes vastos. Desenhando voz, despinta na rocha a eternidade.

Cântico de minúsculos infinitos, suculento microcósmico, ascensão de lesma a luar, pesponta metalinguando as margens e os caroços. Delirando verbos, mastingando, anoiteceu guri espirituando árvore, tratando das grandezas insignificantes de um pardal, conversou fósseis com caracóis e sapos e ervas daninhas e deixou o grilo erodir o ponto.

Molda sons desenhados como quem faz cacimbas para conversar absurdez em Solo de Rio nº 2. No infrasilêncio do esquecimento da tarde, há não-eu no olho da pequena Gaia, legível de folhas secas alterincadificadas. É técnica de saber árvore.

Fotografando em alfabeto cursivo as coisas nenhumas da palavra faltante, palavras grossas magras escuras saltitantes, rascunhando fala para não gaguejar escrito. Liberdade é luxúria de corromper palavras até a quimera para escurecer sentidos.

A licenciosidade do Verbo anoitece para acender vagalumes, limpos de inutensílios.