Homenagem ao guardião do imenso ínfimo
Vestido pelas margens de
Barros que o velho Manoel trilhou de pé-em-cabeça, Mil 96 anos frutificando
sobrancelhas sob a noite de dezembro. Um começo não se sabe quando, desdia não
importa. Tímido roseado, estrela-garça tresandejando rio-palavra virgem prenhe,
formou-se em Torto a vida toda. Compendiando pássaros, encurtou águas para
parir um Jabuti.
Quando
um crôvio pingava trevas, manoelilava frases:
Um passarinho tinha vento
e rodas de asfalto
QuiQuiQuiQuiviando
protesto pelo silêncio envidraçado
Pensamento-gafanhoto: Nem
a Primavera virá chuvisquiar peixinhos!
A
tarde brotou pedra quando um escorpião mordeu a lata, que gritou azul como um
tonto. Ou seria um poeta? No ermo sujo de pisadas humanas, o Senhor de
nadifúndios ajoelhou a brisa e desmorreu a concha. Dês-pessoa mutável,
cartografou sem-fim vozes do pântano plástico, onde a lata come o rio e o ar
racha uma poça de parede, ensandecendo na língua as paisagens, pré-cantiga
rupestre para pós-viver.
Fazendo
tratados de infinidades, idéiaiara feita de frases e
dentes e latas, transvendo ele morreu Bernardo
andar-ilh(a) na trama das larvas do entardecer, para nascer desertos em asas de
petúnias. Prendeu águas para alumiar o turvo, gotando pétalas abaixo
ovas de sapos felizes, escreveu nenhumas para desexplicar os vagalumes.
Minudequenas.
Ântropo
de inseto protagonizando chuvas, Bernardo franciscou irmão dos limos, sendo
lesma para arvorizar-se. Híbrido de madrugadas e formigas vadias, sub-azul de
palavras vareiadas, coisou vida de pedra.
Ontem
é para ouvir futuros, agora é ocaso em estado de criança, menino-lúdico, pleno
ludimenino. Teve a graça
da cigarra e ela não fugiu Verão. Agora já só prisca
poesia com joelhos silenciosos, peraltando a vida, porque pesaroso do dia
tardo. Quando virar pássaro, será árvore? Tresandando existências, encolhe para
a mãe-vida até o limo-primícia. Varejando verde-poesia, na lógica de olhar das
aves, continua bebendo copos de sol para contaminar de versos os ossos das
moscas.
Pervertendo
o traste para virar sabiá, na voz de Bernardo vide Manoel do mato fino e da
flor rasteira, apanhador de gotas de rio no canto das lagartixas, um besouro,
nascendo pedra, se espicha ao céu. Fazedor de aluminesceres para chãzificar
cacos de noite ao sol, beija-vento alimentando flor, fundido na voz da lua
agarrando cheiros, tonto de fonte pinga-cor no sentido chão, aponta colarinhos
que deixam o rio nu, meandros de vermes e vida desparamentada, um lápis escreve
o rio que pinta o poeta. É da natureza do lápis transviar o invisível.
Papito
temperado à ináugura frase-palavra, desapre(e)nde rapinando luar. Aspira
devagarinho a luz sem suspensórios, verbo sem lantejoula, em decomposição,
vaziando um útero pleno por nascer. Para inteliger a transgressão das palavras,
prende raios de água nas unhas dos sapos. Desherói de si mesmo, afrodizia o rio
em ensaios luminovagos. Descasca alma. Descalca. Ama letras como os lagartos
gostam as pedras.
Primogênico
de si próprio, Manoel antes letral de que sangue quebrando copos formais.
Imaginação e um lápis para envelhecer o dia, colheu folhas decíduas nas veredas
pantaneiras, polindo águas de campos pequenos e horizontes vastos. Desenhando
voz, despinta na rocha a eternidade.
Cântico
de minúsculos infinitos, suculento microcósmico, ascensão de lesma a luar,
pesponta metalinguando as margens e os caroços. Delirando verbos, mastingando,
anoiteceu guri espirituando árvore, tratando das grandezas insignificantes de
um pardal, conversou fósseis com caracóis e sapos e ervas daninhas e deixou o
grilo erodir o ponto.
Molda
sons desenhados como quem faz cacimbas para conversar absurdez em Solo de Rio
nº 2. No infrasilêncio do esquecimento da tarde, há não-eu no olho da pequena
Gaia, legível de folhas secas alterincadificadas. É técnica de saber árvore.
Fotografando
em alfabeto cursivo as coisas nenhumas da palavra faltante, palavras grossas
magras escuras saltitantes, rascunhando fala para não gaguejar escrito.
Liberdade é luxúria de corromper palavras até a quimera para escurecer
sentidos.
A licenciosidade do Verbo anoitece para acender vagalumes, limpos de inutensílios.