sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Encontro na praça (Ayalla de Aguiar)

A primavera explodia em roxos, como explodem as primaveras e os roxos em tempos de Feira. Gabriel Garcia Marquez explodia em Cem anos de solidão e eu ansiava para mergulhar em Macondo quando, por graça, perguntei ao vendedor da barraca de livros se ele não me venderia apenas Oitenta Anos de Solidão, e me daria um desconto. Um senhor ao meu lado, sem nenhuma cerimônia, introduziu-se na conversa e quando eu me virei para ver quem estava rindo da bobagem que eu dissera, dei de cara com Mario Quintana, em carne e osso, que, alegremente, falava comigo.

Agarrei-me à oportunidade e, rápida, pedi licença para comprar um de seus livros para que ele o autografasse. Ao rapaz, solicitei um exemplar de A Vaca e o Hipogrifo, lançado naquele ano, se não me engano. Mais que depressa, Quintana atalhou a minha conversa com o vendedor e disse:

– Não, não leva a vaca, o quilo de carne está muito caro! Não leste no Correio do Povo? Subiu o preço do boi!

Surpresa, retruquei:

– O que, então, o senhor sugere?

– Leva o Pé de Pilão. Se achar demais, leva só o Pilão, deixa o Pé, que não tem muita serventia.

Comprei o Pilão, com Pé e tudo e o entreguei ao Autor, para que autografasse. Perguntando meu nome, ele escreveu:

“Para a menina Ayalla, que ainda deve estar espiando por detrás da sra. Aguiar, o amigo velho – Mario Quintana. P. Al. 4/11/77”.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Infância (Amilcar Bettega)

Nós éramos crianças e orgulhosos das nossas arminhas de chumbinho. Cada feliz brincadeira de nossos dias longos era, sem que soubéssemos, intensa e definitiva como um passo iniciático. Caçávamos passarinhos. Joões-de-barro, sabiás, bem-te-vis e tico-ticos abundavam naqueles lados de laranjeiras enormes, pereiras magníficas, macieiras, pessegueiros, e eucalipto e campo, um campo interminável, que nos isolava e protegia, como a cândidos reis infantis.

Foi um passarinho de estrutura doce e frágil, cujo nome nunca nos foi dado saber. Depois a chamamos de pombinha, talvez pelo branco incomum, quase um milagre naquele mundo de telúricos pássaros marrons; talvez pela brandura dos movimentos, que nos pareceram inequivocamente femininos; chamamos de pombinha porque nunca soubemos, de fato, que espécie de ave era aquela, tão pequena e tão diferente e que depois de tudo, e por muito tempo, ainda nos fez cogitar, na solidão escura de nossos quartos de dormir, que nem ave era, algum espírito disfarçado, uma coisa sagrada, e que nos vigiava o sono. Mas chamamos de pombinha, sobretudo, porque precisávamos de um nome, precisávamos contar, aos outros e a nós mesmos, nas histórias que sempre voltavam quando nos reuníamos, a experiência que foi caçar a pombinha.

Foi vista num relance por um de nós, e antes que todos a víssemos, vimos os galhos secos do pessegueiro que se agitaram num tremor repentino, como se uma pedra pelo meio deles caísse. E ainda assim, e já ela vista em seu vôo branco de alegres asas lépidas, algum de nós insistiu que se tratava de uma borboleta, esses fúteis pássaros de papel que saem do sonho de sestas indolentes, pulando no ar como se vivessem um desenho animado. Não era borboleta, era a pombinha, com corpo e vôo bem mais exato, feita de sangue e carne, o que a tornava, de pronto, coisa viva e real, maior e mais grave do que mil borboletas desabaladas. “Borboleta nada”, dissemos nós, meninos com sedes de aventura, ou realidade, ou o nome que se dê a essa gana de ser crescido.

Os primeiros três ou quatro tiros dissiparam-se em ecos aflitos, no infinito: não éramos tão bons quanto pensávamos. Costumávamos treinar em alvos fixos: as latas e tampinhas de garrafa. Ou então em sanhaços gordos e sonolentos da fartura das laranjeiras. Mas nada, nada como ouvir o rude bater de uma asa, o remexer frenético nas folhas, descobrir na placidez monótona da árvore o lugar exato de onde vem aquele movimento; essas coisas todas nos aproximavam de uma verdade quase táctil, sentíamo-nos vertiginosos, o sangue correndo mais ligeiro no corpo, o coração gritando na axila, no ombro que sujeita o cabo da espingarda, que pula, como se ela própria, a tirana, quisesse sozinha fazer o serviço.

E o pior, o terrível, foi que a pombinha não fugiu. No mais das vezes era só uma chance que tínhamos, ou, como atiradores infalíveis: uma só chance que dávamos. Raro era o passarinho que nos desafiava assim, pulando para uma árvore vizinha após errarmos o primeiro tiro. Raríssimo. Impossível. Nunca, jamais um passarinho ficou zanzando de cá para lá entre as árvores, depois de quatro disparos vergonhosamente perdidos.

No quinto ela desandou.

Estava num galho alto e desceu flagrantemente viva, não como uma bergamota madura e abatida como tantos joões-de-barro, sabiás, bem-te-vis, tico-ticos, tantos que assim caíam; mas desceu com as asas semiabertas, se debatendo numa espalhafatosa resistência. Tanto que não foi ao solo. Ficou meio que agarrada num galho mais baixo, quieta, num silêncio em que a surpresa, o medo, talvez a dor e a consciência de estar viva juntaram-se, imóveis. Foram grandes minutos, foram anos, até que um de nós a viu de novo: uma flor branca, se na árvore houvesse flores brancas. Imediatamente, como que dotada de percepções estranhas, ela se moveu, já desassossegada por aquele incômodo pedaço de metal incrustado sob a asa, e procurou escalar um galho mais acima, pondo nas garras a força que lhe faltava em uma das asas. Era já um alvo fácil, e essa facilidade intimamente nos irritou. Tivemos que atirar três vezes. Três vezes atiramos, três vezes, para que então sim ela viesse ao chão, com barulho e, pensávamos, ferida de morte.

Foi sim.

*

Foi sim. E não poderia ser diferente disto: uma sensação de que o mundo some, de que num repente desaparecem todas as forças que nos sustentam e de que algo terrível nos puxa para o nada. Sentir que um frio repentino nos chupa a vida. Sentir que se cai sem tempo de saber que se cai, ou de ao menos preparar o corpo para queda: talvez abrir uma asa, aprumar a pata, girar o torso no ar para que o peito amorteça o baque. Não. Ao contrário, sentir que tudo é pior e que não há força capaz de evitar o pior. Sentir com inequívoca certeza que se vai morrer, e que se queria tanto continuar vivo. A queda é feia e de bico, o pescoço entorta, e só depois as costas contra a grama, como um tambor que se rompe, chocho. E ali ficar, passado o susto, quase feliz naquela estranha convalescência de capins. O peito arfa de medo e cansaço, e há como que um sutil relaxamento dos membros, rapidíssimo, porque então vem o inevitável momento em que a dor se acomoda no corpo como quem chega de mudança.

Estirada assim, olhando o céu e as nuvens, os galhos que filtravam o sol como uma cortina puída, a pombinha pensou. Aguardou, imóvel e sem esperança, que alguma coisa viesse salvá-la. Mas aguardar não era mais do que pretexto para se dar o tempo de juntar forças, porque sabia — e talvez soubesse tanto isso — que estava sozinha. Trazia já uma asa inerte, pedaço morto de si, e o sangue vazava do corpo com uma lentidão de sono. Talvez sonhasse e talvez o sonho fosse bom: o céu azul, uma árvore baixa, uma quase comovente liberdade. Mas qualquer coisa, qualquer coisa que certamente era dentro de si, despertava e a trazia para um mundo de nuvens cruzando o céu e raios de sol furando a copa das árvores, um mundo onde alguma coisa lhe fustigava o flanco com crescente energia. E assim, ainda deitada em sua cama verde, ouviu ruídos que se propagaram perigosamente pelo solo, um tropel de pés muito maiores — sempre tudo muito maior e perigoso — e num só e brevíssimo instante teve de aprender a não ser pássaro e correr terrenamente por entre os ramos de capim, como criança começando a andar. O outro tiro entrou pelas costas, uma furiosa pedra quente que lhe lambeu a espinha e ergueu no ar inúmeras penas como na explosão de um travesseiro. E inúmeras carícias lhe caíram lentas sobre a cabeça, numa improvável tarde de neve. Uma ardência, uma crescente ardência. Eram já cinco os nacos de chumbo que dormiam no seu corpo, e a partir daí decidiu não mais contar. Simplesmente correu. Correu muito, sem saber como nem para onde, os flancos inchados, num esforço supremo para vencer os gigantescos tocos de capim que lhe arrebentavam as patas e se enterravam na carne das coxas. Intimamente sabia que os ramos altos e duros consumiam com velocidade assustadora as suas últimas energias, mas agradecia, a isto que lhe matava, por ser também a selva que a protegia do tiro fatal.

E não foi um, mas vários, a julgar pela quantidade de ecos que se multiplicaram nos ouvidos. Caiu, por fim, exausta, irrevogavelmente derrotada, mas com uma dignidade que não julgava ter. A asa morta, amarrotada sob o corpo como uma folha de papel inútil. Ficou assim estática por dois magros segundos, até que a outra asa, sem menos nem mais, como que atiçada por uma corrente elétrica, abriu-se num leque — e as penas todas, do lombo à nuca, arrepiaram-se num estertor de morte. Era a morte, não havia dúvida, e havia naquilo qualquer coisa de divino. Uma profunda dor no lado e o bico se abriu para puxar um ar que não vinha. O esforço de comprimir-se inteira em busca do nada rendeu-lhe apenas um vômito lento e incolor, pouco mais que um soluço. O bico se fechou num difícil gole em seco, a garganta ardia. Espichou o pescoço para facilitar a entrada do ar e, muito devagar, como quem teme que alguma coisa rebente, abriu outra vez o bico para que surgisse, retesada, a minúscula língua cor-de-rosa. Depois foi se encolhendo, a cabeça baixando no peito, como quem cai no sono.

Quando já não se pode imaginar mais nada, quando o ser parece esgotado de tudo o que nele vive, quando já se é uma massa alquebrada e inerte, quando já se está para sempre vencido e destroçado e batido e morto, é só nesse instante que se é o que de fato se é. A pombinha, nesse instante, como que tomada por forças sabe-se lá de que lugar de si, fez bruscos movimentos com a asa num arranco raivoso, abrindo espaço sôfrega e desabaladamente entre a grama, uma asa arrastando no chão, a outra tentando alçar um vôo absurdo, caindo e levantando e voltando a cair. E assim continuou por uns três, talvez quatro metros, que são vinte, mil, milhões de metros de uma trilha bêbada, caindo e levantando e voltando a cair — e nesse momento ela foi assustadoramente humana.

Então caiu, de uma vez por todas.

Finalmente podia relaxar, deitada sobre o amontoado dormente que lhe pendia de um lado, e acreditou que dormia. A outra asa permaneceu aberta, tal qual um veleiro abatido, com sua vela espalmada e balouçante sobre a superfície do mar. Alguma coisa ainda se agitou por um tempo dentro de si, mas o sono acalmou tudo. O olho, voltado para o alto, ficou aberto e com a sensação de ser a última coisa a morrer.

*

E foi ali.

Foi exatamente ali naquele olho aberto e lustroso, que nos vimos todos refletidos, todos à volta daquela mancha branca — e agora manchada de vermelho — sobre a grama, todos nós, meninos se aprontando, orgulhosos das nossas arminhas de pressão. Nós éramos crianças. E repetimos: nós éramos crianças. Repetimos muitas vezes, éramos crianças. E ainda seguimos repetindo, repetindo sempre.

A vantagem de atravessar a madrugada no ocidente (Daniela Langer)

Sono. Você me diz com o rosto já procurando um jeito de encaixar no meu ombro, acomodando-se entre as dobras das cobertas e o meu corpo. A madrugada caminha pelo quarto e eu suspiro cada segundo – em vez de carneirinhos, pulam, um por vez, todos tipos de pensamento. Vou e volto do oriente, faço na ponta dos dedos a conta de um fuso-horário. Tibete, Índia, Tailândia.

Sombras desenham elefantes entre a cômoda e o vão da porta, murmuro no Japão o império durou milênios e eram tão lindos os imperadores, todas aquelas honras, você não acha? até que, grudando seus lábios nos meus, - e em algum lugar do meu sonho que ainda não começou - você ri, só no Japão que já amanheceu, vai dormir.

Tarde, e não consigo desembarcar desse mundo inteiro. O reflexo de um safári no espelho oposto à tv me faz caçar a voz monocórdia do locutor no volume quase mínimo.

Tarde, e é tão bom sentir seus pezinhos mornos debaixo das cobertas. Viro para você que amolece quando meus dedos invadem as pontas dos tecidos da sua roupa. Minhas mãos lhe convidam para seguir comigo para o outro lado do mundo, quem sabe giramos e giramos sempre na beira do penhasco, um leopardo sai das savanas, tribo ao norte balança suas lanças, calor do seu rosto, seus lábios no meu ouvido vem, ainda é hoje.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O dia seguinte (Moacyr Scliar)

Se há alguma coisa importante neste mundo, dizia o marido, é uma empregada de confiança. A mulher concordava, satisfeita: realmente, a empregada deles era de confiança absoluta. Até as compras fazia, tudo direitinho. Tão de confiança que eles não hesitavam em deixar-lhe a casa, quando viajavam.

Uma vez resolveram passar o fim de semana na praia. Como de costume a empregada ficaria. Nunca saía nos fins de semana, a moça. Empregada perfeita.

Foram. Quando já estavam quase chegando à orla marítima, ele se deu conta: tinham esquecido a chave da casa da praia. Não havia outro remédio. Tinham de voltar. Voltaram.

Quando abriram a porta do apartamento, quase desmaiaram: o living estava cheio de gente, todo mundo dançando no meio de uma algazarra infernal. Quando ele conseguiu se recuperar da estupefação procurou a empregada:

— Mas que é isso, Elcina? Enlouqueceu?

Aí um simpático mulato interveio: que é isso, meu patrão, a moça não enlouqueceu coisa nenhuma, estamos apenas nos divertindo, o senhor não quer dançar também? Isso mesmo, gritava o pessoal, dancem com a gente.

O marido e a mulher hesitaram um pouco; depois — por que não, afinal a gente tem de experimentar de tudo na vida —aderiram à festa. Dançaram, beberam, riram. Ao final da noite concordavam com o mulato: nunca tinham se divertido tanto.

No dia seguinte despediram a empregada.

domingo, 18 de outubro de 2009

O retorno (Eni Allgayer)

Mofo! O cheiro de mofo e poeira está em todos os lugares. Pelo jeito, o sol não entra no quarto há muito tempo. Estranho isso! Ele sempre gostou de luz. Detestava penumbra e poeira. Lembrei então de sua renite. Como estaria? Senti vontade de abrir as cortinas e janelas, deixando o ar puro e o sol entrar, mas me contive. Não seria prudente. Onde estavam as empregadas? Suzi e Verona sempre foram caprichosas, mantendo a casa limpa e perfumada. Será que ele as despediu? Homens são tão insensíveis! Ora, onde já se viu despedir duas empregadas que já estavam conosco há pelo menos vinte anos. Quem estará cuidando dele agora? Ninguém vive sem cozinhar, lavar, passar e limpar. E, ele nunca teve jeito para essas coisas. Lembro-me de como era desajeitado quando tentava me ajudar, nas folgas das empregadas. Chegava a ser engraçado, aquilo: pratos, copos e travessas não resistiam às suas mãos, e a toalha acabava cheia de manchas. Isso sem falar na comida queimada. Bom, vou deixá-lo dormir mais um pouco. Passei a mão em seu rosto áspero, estranhando a barba de dias, mas ele não se moveu. Acomodei-me ao seu lado, resgatando anos de silenciosa vigília. Depois de algum tempo, deixei-o na inconsciência do sono e fui revisar os outros aposentos. Que horror! A sala também tem as cortinas cerradas. Isso não está certo. Nunca pensei que ele pudesse mudar tanto. Antes, era ele quem abria portas e janelas pela manhã, para que o perfume do jardim invadisse todos os recantos. Era a sua maneira de demonstrar amor, pois sabia o quanto eu gostava das flores e árvores que havíamos plantado. Não raro, surpreendia-me com um botão de rosa, resultado de suas investidas furtivas ao roseiral. Chegando à cozinha, pensei preparar um café da manhã no capricho, lembrando que não havia nada que o agradasse mais do que um farto desjejum. No armário, pão dormido; na fruteira, uma banana passada, de casca escurecida; na geladeira, uma caixa de leite desnatado pela metade. O que está acontecendo com ele? Como pode deixar isso acontecer? Inconformada, retornei para o quarto. Encontrei-o encostado na cabeceira, com os cabelos revoltos e os olhos fechados. Sentei na cama, recostando-me ao seu lado, como nos velhos tempos, entrelaçando meus dedos nos seus. Ele permaneceu quieto, num silêncio sofrido. Acariciei-lhe as mãos, como costumava fazer, quando as coisas ficavam difíceis. Pensei ver um sorriso fugaz bailar em seus lábios. Depois de alguns minutos, ele levantou, começando a se vestir, com a calma costumeira. Esperei que fizesse sua higiene, e fomos para a sala. Finalmente ele descerrou as cortinas e, o meu coração se confrangeu ao ver que não existia jardim, nem roseiras, mas apenas plantas daninhas se enredando nas árvores. Por que isso?, perguntei, desgostosa. Num encolher de ombros, ele sentou em frente à escrivaninha. Na sala, pilhas de livros e jornais ocupavam mesas, cadeiras e sofás. Naquele momento, arrependi-me, sinceramente, por não ter adotado uma criança, como chegamos a cogitar, quando os médicos finalmente concluíram que ele era estéril. Voltei a questioná-lo sobre o que estava acontecendo, mas ele me ignorou, continuando a examinar os papéis que tirara de uma gaveta. Algum tempo depois, levantou para acender o abajur. Então me aproximei, tomando-o nos braços. Minha cabeça ainda estava recostada em seu peito, quando fixei o olhar na imagem solitária refletida no espelho. Só então compreendi a tristeza que havia em nossa casa.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A princesa e o dragão (Jeferson Flach)

A PRINCESA E O DRAGÃO



E vens me convidar com um sorriso

dizendo que tive uma grande sorte

por entrar onde um dragão desde o norte

guarda o jardim ao sul do teu paraíso?



És palácio semovente, impreciso

miro as colunas e penso na morte

e ainda mais se toco o contraforte

o quanto deixo para trás meu juízo.



O que dizes ser apenas nanquim

sabe a carne, tem cheiro de jasmim

e se fujo assim, tão desajeitado,



É que me lembro agora do perigo

das princesas que trazem sob o umbigo,

escondidinho, um dragão tatuado.