segunda-feira, 13 de julho de 2009

Está tudo bem, querido? (Ricardo Morales)

Sábado. Morales e Vitória há algum tempo não saíam para se divertir. Estavam presos a uma mesmice que se restringia ao emprego e o retorno para a casa. Clara contava com quase cinco anos e durante o dia ficava com a avó materna. Naquela noite, a menina tinha ido dormir com a mãe de Vitória, pois Morales decidira aceitar o convite de um colega para um jantar-baile no clube de oficiais do exército. Não era o tipo de festa que lhe agradava, mas pensou que poderia ser a quebra da rotina por ambos desejada em silêncio.

A mulher, depois da faculdade de pedagogia, obteve aprovação em um concurso público e passou a trabalhar em uma escola de ensino médio. Alimentou planos para prosseguir os estudos a fim de entrar no corpo docente da universidade do Estado. O projeto se desfez nos primeiros meses após o retorno à vida acadêmica; os motivos foram o ciúme e a gravidez. Por isso, por vezes, sentia-se como castigada. A estagnação em sua vida profissional e o casamento, um tanto tedioso, ainda que o marido fosse um bom homem, a aborreciam. Daí imaginar que o tal baile serviria como uma chance de diminuir a tensão cotidiana.

Morales presumia que ele e Vitória entendiam com perfeição um ao outro, ao menos no que é possível para um casal maduro se entender. Na visão dos amigos era o modelo do casamento perfeito, as pessoas acreditavam naquilo e os dois, segundo ele pensava, gostavam de ser vistos assim. Além disso, Morales supunha que compreendia a si mesmo – o que podia fazer, até onde seria tolerado, o que lhe era proibido, quais as medidas que deveria tomar diante de determinados fatos; tudo por achar que conhecia muito bem as suas possibilidades e as suas limitações. Mais do que tudo, julgava gozar de elevado conceito na categoria de marido, cujo padrão conseguira ao longo dos anos, pois não se furtava de lavar a louça, acordar a mulher com um café na cama, presenteá-la de surpresa, só para vê-la satisfeita.

Os dois diziam se considerar um casal pleno, exceto por uma única ponta de tristeza por conta da interrupção do mestrado de Vitória, que Morales reputava como algo menor, que deveria ficar no passado. Mesmo que não quisesse admitir, às vezes, voltava a pensar no assunto, ultimamente, com maior freqüência e intensidade crescente, acompanhada por imagens horríveis, obscenas e inimagináveis onde a mulher o traía com um colega de curso.

Chegaram em casa perto da uma da manhã; cedo para quem pretendia se divertir como nunca, como dissera Vitória ao chegar no salão de baile. Corpos cansados e cabelos com o cheiro da noite. Quem nunca foi a uma festa, em um ambiente fechado, talvez estranhe, mas, de resto, é assim mesmo, é ficar poucos minutos e a roupa, os cabelos e as narinas cheiram a cigarro e a suor.

O anormal era a tensão calada que os envolvia sempre que ficavam juntos. Morales havia tomado algumas doses de uísque. Não apreciava as bebidas destiladas, mas influenciado pelas companhias agradáveis permitiu-se alguns excessos.

Sentaram-se na sala de estar. Vitória esparramou-se no sofá. Percebeu que o marido, com o passar dos anos, tornara-se um pouco mais introvertido. Recusara-se a dançar com ela, mas jantou e conversou com o amigo Sérgio e com dois militares e suas esposas com quem dividiram a mesa. Nada além disso. No fundo, Vitória sentiu-se um tanto desprezada, pois ele não se importou que ela dançasse duas músicas com o Sérgio, cuja acompanhante exibia uma barriga de sete meses. O fato lhe trouxe alguma frustração, pois gostaria de ter desfrutado da festa junto com Morales. Além disso, subitamente, ele anunciou que queria ir embora.

Vitória estava distraída entre as recordações recentes quando uma pergunta lhe trouxe para o presente.

“Gostou da festa?”

“O que é que houve? De repente, tu resolveu ir embora?”

“Não foi nada. Cansaço, só isso.”

“A comida estava quente e a bebida boa, não é?”

“Mais ou menos, mas a música... Desculpe, mas não deu pra dançar, faltava alguma coisa.”

“E o Sérgio, coitado. Ele não dança nada.”

Morales fez silêncio. Recuou, em segundos, cinco anos. Uma prática cada dia mais comum e dolorida. Relembrava a época em que Vitória estudava; o curso noturno, as horas em casa aguardando o retorno da esposa, o dia em que olhou entre as persianas do apartamento e a viu saindo de um carro vermelho. “Carona de um colega”, ela disse.

De olhos fechados, tentou recriar os fatos, reconstruir a história de outra forma, imaginando a si mesmo indo buscar a mulher na porta da faculdade, emprestando o carro e lhe dando dinheiro para que colocasse o automóvel em um estacionamento pago.

“Tome querida, não vá se atrasar... Ah, não, não peça carona pra esse cara... Ora, se não gosta de dirigir à noite, não tem problema, vou te buscar!”

Nesse momento, o relógio parecia paralisado. Morales poderia ficar uma hora remoendo e recriando imagens sem perceber. Ele sabia que aquilo não era bom, nem saudável, porém, não conseguia livrar-se do exercício infernal, das seqüências em reprise. Era verdade que nunca tivera a certeza inequívoca, definitiva e imutável do que ocorrera. Sabia que Vitória de uma hora para a outra havia desistido de prosseguir com os estudos. Sim, Morales reclamou das caronas. Mesmo que lhe fosse conveniente deixar de sair tarde para buscar Vitória, não podia concordar com aquilo. Um mal-estar havia se instalado naquele tempo. Morales não acreditava que um homem pudesse ser amigo de sua mulher. Ela era grande, como ele gostava. Seios firmes. Pernas rijas. Olhos castanhos. Cabelos longos e bem cuidados. Sempre vaidosa com as roupas e com o corpo. Não estava enganado ao expor aqueles temores para Vitória. Essa era a sua convicção. É claro que jamais havia pretendido prejudicar a esposa em seus projetos, não a proibira de fazer o que quisesse, mas não admitia ser iludido.

O certo era que ao final ainda persistia a interrogação, a dúvida e a insegurança que andava surda entre os dois. Porém, sem qualquer aviso, em meio ao diálogo despretensioso durante o começo de madrugada, tudo aflorou como se aquela noite, perdida no passado, estivesse suspensa no tempo.

“Aquele teu colega... Ele dança bem?”

“Quem? O Fred? O do curso?”

“Tu ainda lembras?”

“Nem penso nele.”

“Ele dança?”

“Como posso saber? Nunca dancei com ele.”

“Mas tu saiu com ele!”

“Não... Olha, nós já conversamos sobre isso.”

“Eu preciso... Por favor.”

“O quê? Não aconteceu nada. Nada demais.”

“Como nada? Ele tentou. Isso tu tens que admitir. Já faz tempo, eu sei. Mas, somos adultos, pode falar”.

“Não. Vamos deixar como está. Não há nada pra contar, querido.”

“Vitória, meu bem, nós não precisamos de segredos. Eu nunca escondi nada, não é? Me conta, por favor. Nós nem vamos ver mais aquele cara.”

A mulher ficou um instante em silêncio. Para Morales foi a eternidade. Ele fixou o olhar nela, depois passeou pelo sofá, contou os quadradinhos no desenho do tapete e refez o caminho de volta. Quadradinhos, tapete, sofá, rosto da mulher.

“Bem... Tá certo. Tu não vais ficar brabo? Já faz muito tempo...”

“Tudo bem, afinal, sou eu quem quer saber.”

Morales procurava manter-se calmo, mas em seu íntimo crescia um sentimento sufocado. As malditas imagens em velocidades surpreendentes se reproduziam uma após a outra. Vitória sorrindo, o carro vermelho, Fred, o casal se beijando, Fred dirigindo com a mão sobre a perna da mulher, os dois rindo dele, Morales espreitando atrás da persiana, Clara de vestido amarelo correndo em uma praça.

“Ele me beijou... Nós nos beijamos... Só isso. Nada mais.”

Ele permaneceu quieto por alguns momentos. Precisava digerir a notícia, processá-la, absorvê-la e controlar a luta entre o instinto de preservação da auto-estima e o desejo de saber o que ocorreu.

“O que mais tu tens pra me contar?”

“Não aconteceu mais nada, já disse. Não fomos além disso. Só um beijo e nada mais.”

“Só isso? Tu achas pouco, então?”

“Calma, amor, nem penso mais nele. Não foi nada sério. Eu errei, eu sei.”

Vitória reviu a noite em que retornou para casa de carona com o colega. Os olhos e o tom de voz de Morales eram os mesmos. Ela pressentiu que viveria a mesma cena e as mesmas indagações que agora ecoavam em sua cabeça. “Quem é aquele cara, Vitória? Onde vocês andaram? Sabes que horas são?” A repetição da antiga trama. Os punhos fechados do marido, o chute na cadeira da sala que voou contra a porta da rua, a voz quase inaudível.

“Meu Deus, o que mais aconteceu? Eu acho que sou um trouxa, isso sim.”

“Não faz assim, Morales. Foi só um beijo.”

“Pra mim, já é o suficiente... Tu não tens noção? Um beijo. NEM AS PUTAS BEIJAM. UM BEIJO É MAIS ÍNTIMO DO QUE UMA TREPADA.”

Vitória não sabia o que fazer. O tempo parecia desandar. Tudo aquilo deveria ter acabado há muito tempo. Ela procurou apoiar-se na razão. Levantou-se do sofá, tentou abraçar Morales, demonstrar que tudo estava bem. Ela tocou os seus lábios nos dele, que ficaram imóveis.

Não havia mais controle; Morales não podia parar. O que antes era uma suspeita, uma micro-certeza, tornava-se real. A mulher o traíra. A vergonha de ser um homem enganado tornava ridícula a história de casal feliz propagandeada entre os amigos. Talvez isso fosse até motivo de piada, talvez todos soubessem do caso. Ele ruminava em silêncio se agira corretamente. Reprovava a si mesmo por não ter interferido logo quando suspeitou. Deveria ter ido falar com ele, esperá-la na calçada, ameaçá-lo, se necessário. Mas não sabia até onde poderia ir. Ninguém desejaria estar em tal situação. Quem, nessas circunstâncias, saberia o que fazer? Logo Vitória, tão doce, tão bela e inteligente. Não queria acreditar. Um beijo, para ele, era muito mais importante que o sexo. Era pessoal, lascivo e, ao mesmo tempo, terno.

Morales sentia como se tivesse levado uma bofetada. Com um empurrão afastou Vitória.

“Ele colocou a língua na tua boca.”

“Por favor, chega.”

“Já imagino o que aconteceu depois...”

Morales apanhou as chaves e dirigiu-se à porta.

“Aonde tu vais?”

“Não interessa!”

Ele entrou no carro e rodou sem rumo. A bebida, o movimento, a dor de cabeça e a confirmação de Vitória o fizeram vomitar. Conseguiu estacionar e colocar a cabeça para fora. Agora, a realidade era material, definida. A suspeita soterrada, o esquecimento fingido pelo regular exercício de retirar da memória havia sido desvelado. O choque com a verdade; o tijolo atirado contra a vidraça.

Morales seguiu em frente, andou por vários lugares. Passou pela Farrapos e se viu entrando em uma das casas de shows da avenida. Pegaria uma qualquer para fazer a sua vulgar vingança. Desistiu, pois não teria como deletar a história daquele jeito. Terminou na Lima e Silva. Uma mesinha de ferro na calçada, público variado, jovens, bêbados, pessoas comuns e, também, gente estranha. Todos conversavam, sorriam sem preocupações, sem amores ou infidelidades.

Pediu uma cerveja, que permaneceu intacta até que a espuma quase sumisse e o líquido ficasse morno. O dia já ameaçava clarear quando Morales fez um sinal para o garçom. Num minuto, trouxe-lhe um copo com gelo, limão e uma bebida mais forte que ele sorveu em pequenos goles para alcançar a coragem que sabia não possuir. Quem o olhasse à distância não teria ideia do que se passava. Ele parecia tranquilo. Absolutamente sereno.

Morales não podia esperar mais. Pediu a conta, largou duas notas sobre a mesa e levantou-se. Enquanto andava quase tropeçou numa pessoa deitada sob uma marquise. A manhã nascia gelada e dois cachorros estavam encostados ao homem coberto de jornais, entre sacos, entulho e garrafas de plástico. Poderia ficar ali, cair em qualquer canto. Quase desejou não ser mais lembrado, esquecer-se de quem era e de como estava a sua vida.

Ele precisava reunir forças para voltar para casa. Pensou na filha, Clara, que possuía as feições da mãe. Era linda e ficaria mais bonita quando crescesse. Aos domingos, gostava de apanhar o jornal e deitar-se com o pai. Pedia que Morales lesse o Caderno de Televisão, as tiras dos quadrinhos. A menina viera ao mundo depois daquela pequena tragédia conjugal. Ela, na certa, ignorava os fatos; tão pequena, tão inocente e sem culpa. Sim, alguém tinha de ser o culpado, alguém tinha que ser o responsável por aquilo.

Domingo. O sol já ia alto. Morales estacionou o carro e entrou no prédio. Abriu a porta com cuidado. O jornal havia sido colocado sob o tapete. Foi até o quarto e viu que a porta estava entreaberta. Vitória, deitada de lado, parecia dormir. Ele desejava um banho, um pouco de privacidade e alguma coragem. Tirou a roupa e abriu o chuveiro, regulando para que ficasse bem quente. Os vapores e o calor aconchegante do jato d’água na nuca fizeram com que relaxasse por um momento, mas a imagem projetada ainda era a mesma: Vitória murmurando abraçada a um outro homem sem rosto. Mais! Mais! Mais! Ele ouvia mentalmente quando abriu os olhos e pensou como as coisas haviam saído dos trilhos; sabia que estava errado e que, de alguma forma, tinha falhado, que não compreendera a mulher. Talvez ele não tivesse agido corretamente e, talvez, fosse ele o culpado, mas agora não havia mais nada que pudesse modificar. De repente, ouviu a mulher do lado de fora.

“Morales, tudo bem?”

“Que é?”

“Está tudo bem, querido?”

“Já vou.”

Nenhuma outra palavra foi dita. Depois de secar o corpo, Morales saiu do banheiro, foi para o quarto e viu a mulher sob os lençóis. Rapidamente, deitou-se para se encostar em Vitória. Ela voltou-se para ele e com suavidade passou a mão em seu rosto tenso. Ele tentou resistir, manteve-se imóvel, contudo não a afastou. Esperou quieto e ela, sem dizer uma palavra, acomodou-se sobre seu corpo.

Morales não pôde deixar de lembrar do outro. Em como teria acontecido, naqueles encontros que povoavam a sua imaginação e, estranhamente, um desejo insano se instalou. Vitória deu-lhe um beijo ardente, cheio de paixão e piedade, enquanto comandava as ações e os quadris. Quando não pode mais suportar, abraçou-a e quase juntos tiveram um orgasmo.

A esposa, em seguida, aninhou-se em seu ombro. Morales lentamente permitiu que os pensamentos fossem se apagando. Afrouxou os músculos doloridos até que adormeceu para sonhar que voava de braços abertos sobre a cidade. Ele via o movimento nas ruas, as luzes das casas e dos edifícios, enxergava os rostos conhecidos, as pessoas andando nas calçadas, e sabia que ninguém poderia vê-lo ou tocá-lo. Sentia-se leve.

9 comentários:

  1. Ricardo Morales, a exemplo de grandes escritores como Ernesto Sábato, dá seu próprio nome ao personagem principal, criando, assim, um jogo de rato e gato com o leitor. Mas isso seria apenas uma "tecniqueria", como dizia Unamuno, se Morales-Autor não fosse um grande e poderoso escritor.

    Ricardo Morales não é Um estilista, no sentido pejorativo do termo, Morales é um escritor de conteúdos, desses escritores que vão fundo no humano e de lá extraem uma literatura ainda quente, latejante, como este excelente "Está tudo bem, querido?"

    Charles Kiefer

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  2. Morales,


    Não por acaso você gosta tanto do Carver. O teu conto é seco, preciso, precioso em termos literários. Sustenta a expectativa daquele “algo” do início ao fim. A narrativa é um mergulho, pois a tensão está nele dando suporte a curiosidade do leitor com propriedade; não há excessos, não há sentimentalismos, não há faltas pelo medo do excesso. Há sim o relato de uma experiência humana, crível, adulta, o relato sobre alguém que - como diria Shakespeare a respeito do ciúmes -, vive na carne “o mostro de olhos verdes que se alimenta do próprio veneno”. Parabéns pelo excelente conto!

    Grande abraço,
    Marco De Curtis

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  3. Morales,

    mais uma vez demonstras todo o teu talento nesta obra literária... Fascinante, dramático, perfeito.
    Mais uma vitória de Morales.

    Um forte abraço!

    Guilherme Santa Rosa

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  4. Ricardo Morales domina o ritmo da narrativa como poucos. "Está tudo bem, querido?" tem esse e outros tesouros escondidos pelo caminho.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Ricardo,
    suas palavras tomaram os meus pensamentos passados e presentes.
    Dúvidas humanas, atitudes no relacionamento, casamento e o desconhecido imaginário...
    Excelente final suavizante.
    Aquele Abraço.
    Enio de Sá

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  7. Caro Ricardo,

    Que belo conto, hein? Por um instante, lá no final, achei que ele a encontraria morta, uma parada cardíaca ou talvez um desfecho que levasse a um surrealismo qualquer... Eu talvez, confesso, fosse por aí. Mas não, Ricardo, não fizeste isso. Mostraste tua força pela pena segura e firme, impávida relatando um caso simples e tão complexo como o é a vida real, o dia-a-dia e os dramas do Homem comum. Absolutamente perfeito. Me fez lembrar alguns escritores, mas citarei um contemporâneo e cosmopolita que aprecio: Marcelo Rubens Paiva.

    Voltarei aqui na certa.

    Abraços
    Cesar Cruz
    S.Paulo - Capital

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  8. Queridos,
    agradeço ao Charles a oportunidade ímpar, aos comentários elogiosos postados por vocês, aqueles que me telefonaram e aos que enviaram mails. A repercussão foi muito legal. Como retorno posso prometer que vou continuar meu esforço para qualificar o texto. Nunca estou satisfeito, vejo mil defeitos, mas, afinal, quem é perfeito?

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  9. adorei o conto...como sempre,gosto do que escreves, assim bem contado, tudo bem escrito... Já está quase saindo um livro, né? parabéns!!!!!!

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