segunda-feira, 1 de junho de 2009

Musa de Argila e De inteiro a metade (César Azevedo)

MUSA DE ARGILA

Disforme, por entre os dedos
Deslizas, matéria-prima.
Escorrem abaixo e acima
Teus excessos, meus segredos.

Na silhueta frágil e macia,
Nômade, navego milhas
Criando-te novas trilhas
A moldar minha fantasia.

Da lama te faço vida
Sabendo que vais embora.
Nem quero pensar agora
No instante da despedida.

Vai tua imagem, fica o rancor.
É só dinheiro o que me sobra
Da matéria, já feita obra
No ofício de escultor.



DE INTEIRO A METADE

Andou um tanto distante
Do caminho habitual
Imutável nada breve
Na terra plana e arada

Deixou o inerte gemido
Apagou culpa e pegadas
Do fastio criou desejo
Do deserto fez um rio

Traçou ambígua aventura
Provou o golpe repetido
Ao reinar em solo alheio
Seco em laços e governo

Arredou vales e montes
Em busca do que levava
O tempo todo consigo
E só faltou entender

Voltou tardio ao abrigo
Sinal vermelho na porta
Colou o rosto na escuta
E ao silêncio abandonou-se

11 comentários:

  1. Como quem não queria muita coisa, como quem não acreditasse muito em escrever, César Azevedo chegou às minhas oficinas. No começo, pareceu-me que estava ali mais para conhecer a própria literatura do que para fazê-la. E aos poucos, também como que não quer muito, vai se transformando num bom contista e poeta. Já ganhou prêmios e a cada dia seu verbo fica mais certeiro, mais exato. César sabe que a poesia é um "tour-de-force", e que o poeta arreda vales e montes em busca do que quer. E que, às vezes, a linguagem salta, como fera no escuro, sobre o poeta.

    Charles Kiefer

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  2. Correção: Onde se lê "também como que não quer muito", leia-se "também como quem não quer muito".

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  3. Lindos, César. Que honra poder ter dividido contigo por um bom tempo esse teu dom e tua doce companhia. Beijo e parabéns a ti, poeta!

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  4. Cada vez que é postado, neste espaço, conto ou poema de algum companheiro de turma, tenho vontade de correr pra janela e gritar pra vizinhança: "sou colega desse cara, gente!!" Está sendo assim, agora, César. Parabéns pelos dois belos poemas, tão bons de reler e rever e degustar.
    Abraço do Juarez.

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  5. César querido, o Kiefer definiu bem o teu jeito de quem não quer nada, querendo tudo , um toque mineiro, "cabeça baixa, orgulhosa", quem dera todos fizessem poesia com o cuidado e a seriedade com que tu fazes. Um beijo, ana

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  6. Cezar, parabéns!!!!!
    As imagens que vc MOLDA são lindas, inteiras, e nunca metade.
    Charles, parabéns!!!!!
    A idéia do blog é ótima. Não tinha conseguido acessar ainda. GOSTEI MUITÍSSIMO.

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  7. Como o Juarez, também fico orgulhosa de compartilhar contigo as aulas de sábado. Beleza, César.
    beijos

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  9. Caro escultor, tava na hora! Vai, vai te soltando que tu vai longe. Nem presta. Sai do casulo que tu arrebenta. Tô orgulhoso do amigo.

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  10. Gostei muito ,também!
    Não conheço o César como todos os amigos que, antes de mim, postaram seus comentários, mas nem por isso me privarei de dizer o quanto suas palavras encantam, fluindo suavemente, apesar da intensidade do texto.
    Parabéns aos dois: ao primeiro, pela criação e ao Kiefer, pela oportunidade da leitura!
    Um abraço.

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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