"Um fosso profundo
faz do castelo
o rosto perfeito
– cruel e imaculado –
como um anjo devasso,
sedento de paz
e repleto de salas secretas...
onde fantasmas gargalham;
reclusos no espelho."
Ele recém escapara do ataque de uma aranha quando percebeu sons estranhamente articulados em sua mente. O mais desconcertan-te de tudo é que entendia o que aqueles ruídos mentais significavam. Porém, expandira sua psiquê de tal forma, atravéz de conceitos abs-tratos, que estranhava tudo a sua volta. E via tudo de forma diferente, com uma profundidade antes desconhecida, com significados que reduziam tudo a um padrão sonoro e imagético mental. Foi quando reparou no seu corpo: perdera as antenas, as asas rígidas e suas seis patas. Estava quase do tamanho da árvore que outrora fora seu univer-so. Tornara-se gigante. Apesar de todas as novidades, sua primeira atitude foi esmagar a aranha que o atacara no gramado. Olhava para o novo corpo e via alguns seres semelhantes perto de onde estava. No entanto, eles cobriam suas peles com trapos de tecidos coloridos.
Porém, para seu espanto, todos fugiam apavorados quando ele tentava pedir alguma explicação sobre sua nova condição. Sem entender porque todos o evitavam, resolveu fazer o que sabia: pulou sobre um senhor bem vestido. Lhe obrigaria a explicar o que devia fazer em sua nova forma de vida. Contudo, seu gesto causou confusão. Foi preso e levado para a delegacia. Os policiais lhe deram roupas e perguntaram o que ele fazia nu no parque. Pensou que finalmente receberia alguma explicação sobre sua metamorfose e contou ao delegado toda sua história. Este, achou tudo muito engraçado e lhe aconselhou a r-tornar para casa – recomendando que parasse de se drogar ou procurasse tratamento psiquiátrico. Desconsolado, caminhou até sua árvore. No parque, reparou que, usando roupas, seus semelhantes não o evitavam de imediato. Porém, os poucos que lhe escutavam, expulsavam-no após ele contar sua história.
Sentia fome, sensação que não lhe era estranha. Contudo, ninguém lhe dava de comer. Revirava as latas de lixo do parque, mas o que antes banqueteava com frenesi agora lhe repugnava. A noite se aproximava. O parque assumia tonalidades sombrias, diminuindo a eficiência de seus novos olhos, em relação aos antigos, melhor adaptados à pouca luz. As dores que sentia na barriga, devido à fome, aumentavam sua ansiedade – condição que conhecia desde os tempos de inseto. Desesperado, decidiu novamente fazer o que sabia – caçar comida. Armou-se com um galho de madeira resistente e surpreendeu um cão perdido, que farejava entre as árvores – o qual matou a pauladas. Mas não sabia como comeria aquilo. Tentou morder a pele dilacerada do animal. Porém, um de seus novos colegas de espécie – que observava tudo escondido, apresentou-se a ele e explicou que, se comesse a carne do cachorro crua, acabaria doente.
Seu novo conhecido lhe ensinou a fazer fogo, carnear a presa e depois assá-la. Ambos dividiram o churrasco, em torno da fogueira, que fizeram atrás das raízes de uma figueira. O ex-inseto reparou que aquele homem, que lhe ensinara tanto, vestia roupas rasgadas e sujas. Porém, foi o único que ouviu seu relato com atenção – até o fim. Depois de escutá-lo, o homem disse que se chamava Batista e lhe explicou sobre sua nova condição de vida – seria muito parecida com a anterior: teria de roubar para comer e fugir de predadores maiores, como a polícia. A grande diferença era que, a partir de então, não utilizaria garras ou tentáculos, mas esperteza. O mais estranho para o ex-inseto foi compreender que não precisava procurar comida – bastava possuir dinheiro. Batista não possuía dotes pedagógicos, e levou tempo até convencer seu conhecido que o novo mundo onde ele teria de viver era movido pelo dinheiro. Mostrar uma das poucas cédulas que carregava não ajudou, pois seu novo amigo viu pouca diferença entre ela e as folhas das árvores do parque.
2 – O observador
Juro a vocês. Precisam me ouvir. Sei que pareço um maluco – e que as roupas rasgadas que visto não ajudam os senhores a me respeitarem. Mas me dêem um pouco de crédito. Afinal, pelo que sei, sou o único que conhece toda a história do novo sócio que os senhores investigam. Mas, se os senhores duvidam da credibilidade deste mendigo que lhes fala, saibam que, antes de viver nas ruas, fui como um de vocês. Inclusive, me formei em jornalismo. E compreendo todo o asco que nutrem em relação a minha pessoa. Por que fui parar nas ruas? É difícil explicar. Teria de lhes descrever um longo processo de ruptura com minhas crenças – pois começou assim. Depois comigo mesmo. E o efeito dos remédios que me deram no hospital psiquiátrico. A solidão – coisas que os senhores temem e não querem ouvir. Sim, durante alguns períodos da vida perdi a sanidade – mas sempre consegui resgatá-la, pelo menos até agora. Querem que eu lhes conte a história do Gregório?! Não costumo trair amigos, mas ele nunca foi meu amigo e, quando não precisou mais de mim, simplesmente me descartou.
Os senhores precisam estar com a mente aberta – ou não acreditarão no que contarei. Imploro para que escutem o jornalista, e não o mendigo. E, se julgarem minha história digna, me consigam todo o dinheiro que prometeram, pois não agüento mais dormir nas calçadas. O conheci aqui, nesse mesmo parque, há seis anos – acho. Nas ruas o tempo passa de forma diferente – não sei explicar se mais rápido ou devagar. Mas o que isso importa? Conheci o Gregório nesse parque e, acreditem em mim, praticando o ato mais selvagem que já presenciei – e olha que vivo na rua... Ele matou um cachorro a pauladas e tentava devorá-lo cru – rasgando a pele com os dentes. Não sei de onde e-le veio – me contou uma história maluca: de que era um inseto e que se transformou em gente. Mas já vi tanto delírio que não o recriminei. Fui eu quem lhe ensinou tudo – inclusive a cozinhar a comida. Nem dinheiro ele conhecia e nem do nome lembrava. Fui eu quem lhe botou o nome de Gregório. Por quê? Por causa da história maluca que me contou sobre ser um inseto. Gregório era o personagem de um livro que li na juventude – A metamorfose, ou algo assim.
Como ele começou? No início roubávamos e pedíamos. Mas ele era muito rápido e forte. Cedo começou a assaltar e a vender pó nos bares próximos. No tempo em que traficou, eu ainda convivia com ele. O cara me dava medo – matava seus concorrentes sem a menor piedade. Percebi que era muito mais louco do que eu pensava. Acabei trabalhando com ele – vendendo erva, pois ele me considerava incompetente para vender pó. E foi assim: enquanto eu vendia maconha e era preso, ele se tornava o maior traficante da cidade. Mas ficou pouco tempo no ramo. Comprou uma empresa e começou a se dedicar aos negócios e à política... mas isso vocês devem saber. Querem saber de seu temperamento? Contei que ele matou um cachorro a pauladas? É, ele fazia o mesmo quando um de nós não correspondia ao que ele estava esperando. Vi, com meus olhos, ele executando dois caras com pauladas na cabeça. Primeiro batia no rosto – para defigurar e causar dor. Triturava carne e ossos – os caras não tinham mais rosto, só uma massa de carne homogênea. Era horrível. Depois, deixava eles assim por algumas horas – sofrendo. Finalmente matava, batendo em suas cabeças com o bastão. Não sei o que fazia com os corpos. Alguns diziam que ele os devorava no dia seguinte. Isso mesmo, comia carne humana. Louco ele era, mas não sei se chegava a tal ponto.
Sim. Ele era muito frio. Nada o emocionava ou comovia – dava a tudo uma finalidade prática e descartava o que lhe parecia desnecessário. Ainda não havia pensado no que vou lhes dizer, talvez seja apenas o delírio de um bêbado, mas ele parecia mesmo um inseto. Como na história em que me contou no dia em que o conheci. Nunca presencei uma demonstração de carinho – ele via o mundo como um inseto. A diferença é que era muito racional. Tinha uma inteligência assusta-dora – e sabia como convertê-la para fins práticos. Inclusive, não refle-tia ou se questionava. Usava toda sua inteligência para obter vantagens sobre os outros. Pegava tudo que lhe servia e descartava o que considerava inútil. Dizem – não sei – que como empresário ele faz muito sucesso. E eu acredito. Mas por favor: não contem a ele que me fizeram essas perguntas. Nem falem da história do inseto, pois não sei se ele a contou a outras pessoas... Claro. É evidente que temo por minha vida. Por menos que ela valha, é só o que me resta. E lhes garanto que ele não teria qualquer consideração por mim. Assim como não terá por vocês, quando se tornarem desnecessários a seus objetivos. Quanto a seus objetivos? Não sei. Nunca me disse o que queria. Nada o divertia – nem o que podia comprar com toda a grana que tinha. Acho que só o poder. Não! Não porque gostasse de mandar nas pessoas. Tenho a impressão de que tudo era apenas porque sentia medo. Só estando acima de todos ficava tranqüilo.
3 – O objeto
Dois meses sem o sol. Talvez séculos. E esse corpo estranho – restrito por regras falsas. Odeio toda essa gente, principalmente aqueles que me bajulam. Ao contrário dos que me agridem, os bajuladores querem me comer aos poucos – perna por perna. Já devoraram mi-nhas antenas. No espelho vejo um rosto estranho. Uma imagem que aparece nas revistas de negócios como outras: um dos dez homens mais ricos do país. E daí? Todos querem me derrubar, se vingar. Mais ainda os hipócritas que me procuram – que me chamam de “amigo”. Só aguardam o momento apropriado para me desferirem um bote fatal. Quase duas décadas fechado nesse mausoléu – que todos cobiçam. Nesse casarão cercado por bosques, câmeras e grades. Assas-sinando aranhas e formigas. Jogando na bolça de valores com o computador. Números. Números. Números e mais números – é tudo a que me reduzi. Cada vez mais rico, mais poderozo, mais invejado, mais só... cada vez menos complicado. E a evidência é arrasadora. Não que tivesse ilusões, mas nem prazer sinto. Semana passada torturei uma jovem até a morte. Levei dois dias para matá-la. Nem sua pele branca coberta de sangue – visão que alguns anos antes me encheria de orgulho – despertou qualquer emoção em minha mente. Foi puro desperdício de súplicas e gemidos. Naquela hora, nem os números me salvaram... Até eles revelaram-se malditos paradoxos.
Restam os corredores escuros e esse cômodos repletos de vazio – meu império. Se ao menos os móveis dançassem, ou se o piano me engolisse. Retornaria à selva, em seu interior infinito. Mas sequer posso invejar minha antiga condição. Não há nada mais crítico que viver no meio do caminho – com essa maldita racionalidade humana e com esse pragmatismo artrópode. Não sinto nada: afeto, ódio ou qualquer outro sentimento. Fico mais rico a cada dia, mas não tenho nada. Nem a mim. Sou estranho até para o espelho. Se pudesse, detonaria todas as bombas atômicas do mundo de uma só vez e acabaria com esse pesadelo. Daria um fim glorioso à angústia de bilhões – todos perdidos em labirintos semelhantes ao meu. Um espetáculo pirotécnico jamais visto como epílogo da história. Exterminá-los seria perfeito, sem qualquer sentimento: apenas átomos se descombinando para depois se combinarem de outras formas – menos miseráveis. Mas quem sou eu para julgar a miséria? O rei dos miseráveis? Sim, talvez, mas nunca o dos hipócritas. Mas seria a plenitude – sentir os átomos livres como cometas, saindo pala tangente e dirigindo-se ao nada, ao insondável, unindo-se a tudo em algum buraco negro. Que breve conforto infinito para minha alma mal sincretizada. Que ode aos cupins que devoram as fundações de nossos palácios...
Nunca acreditei na vida. Nada me difere das paredes desse ca-sarão que me exila dos sorrisos. Nem os criados podem me ver – eu odeio essa gentalha servil e traiçoeira. Só ocupam a ala de serviços – e me servem comida na sala de refeições sem que os veja. Tocam o sino – que indica que já serviram a comida e foram embora. Me sinto ligado a tudo, menos a esses vermes bípedes que ousam separar-se de tudo e centralizam o universo a sua volta. Mas nem os odiar consigo, pois entendo os mitos infames de que precisam se servir para continuarem vivendo sem desconfiarem que estão apenas sonhando con-sigo mesmos. E como desprezo suas ridículas personalidades – revestidas de ouro e recheadas de merda. Acho que apenas troquei facilidades: a vida descomplicada dos insetos, mas dura; por esse teatro, igualmente duro, mas adornado com castiçais reluzentes e pedrarias brilhantes. E o pior de tudo é que, quanto mais aceleram suas vidas, mais se aproximam de meus desertos – das taças que transbordam areia que bebo todas as noites enquanto contemplo a lua, da janela do quarto. E em poucas décadas serei o modelo de todo horror que espalharão no planeta. Mas por que me importaria? Que venham até onde estou e me libertem de suas lendas. Eis minha utopia, disfarçada de pragmatismo: o mundo será dos insetos – a revolução artrópode não pode mais ser contida. Me resta o consolo de que sou o século XXI.
Sim, me rebelei com a condição de objeto, imposta nas revistas de fofoca. Aqui estou, em minha mansão, vagando por corredores que parecem novos a cada dia. Porém, no meio de tantas relíquias artísticas – compradas ou roubadas – apenas um espelho, da mobília do rei Luis XIV, dá sentido a meu rosto. Todas as noites, antes de vagar no quintal, olho para ele por horas a fio – tentando captar-me. Mas, quanto mais focalizo a visão, mais meu rosto parece fugir – torna-se abstra-to. Como se também eu fosse apenas um arquétipo. Mas a muito desisti de buscar a sinceridade no reflexo: hoje tento apenas me comunicar com os cupins que devoram a moldura de madeira do espelho, entalhada com rigor e pintada com ouro. Eles me espiam de seus bura-cos, como se por eles vazassem lampejos divinos. E isso tudo me irrita muito, pois sou ateu. Duvido do primata estúpido que vejo – mas as frestas dos cupins compensam o meu horror. Já tentei conversar com o reflexo, mas ele me dizia palavras tão vãs que desisti. Era monstruoso. Desde então, tento me aproximar dos cupins – me comunicar com eles. Ajudar em sua tarefa. Devorar esse precioso espelho até sua últi-ma lasca, para sua imponência ser esquecida para sempre. Sei que eles me olham, me contemplam assombrados.
Nos primeiros anos me entreguei às bacantes. Esse casarão abrigou as mais famosas orgias da cidade. E, como continuava enriquecendo, ninguém se importava. Pelo contrário, recebia a nata da sociedade local – sedenta de prazeres proibidos. A cocaína pura circulava em bandejas de prata e era inalada pelos convidados em canudos do mais fino cristal de murano. Devorávamos tudo o que podíamos – enquanto nossos corpos agüentavam. Mas isso acabou me entediando. Transformou-se em uma espécie de ritual – quanto mais tentava modificá-lo, mais se aproximava de um padrão. Uma noite expulsei todos de casa e desde então vivo recluso – com meus cupins. Como me torno mais rico e poderoso a cada dia, todos respeitam minhas particularidades – “é um gênio dos negócios”; dizem. Caso estivesse empobrecendo, diriam que sou louco. Mas e daí?! – tal aprovação não me convence. Quanto mais me odeiam, mais me admiram. Minhas empresas agem como aranhas no mercado – e recebo prêmios humanitários. O que teria de fazer para que assumissem que me odeiam? Tudo o que faço revela que os desprezo – e, quanto mais os desprezo – mais me adoram. Mas nunca conseguiriam entender o que sinto, aprisionado em seu mundo de aparências – transformado em espetáculo. Sou um deus laico que deseja apenas esquecer todas as palavras e retornar ao labirinto incogniscível da relva noturna. Um Odisseu que deseja voltar à época em que devorava para existir – e bastava existir. Hoje, ao contrário, existo para devorar – e, até que eu devore tudo, existir nunca bastará. Se os cupins soubessem o que é a inveja – entenderiam o quanto os invejo.
Diário de um inseto, 20 de setembro de 2015.
Vilson Ortiz é o primeiro aluno de Escrita Criativa, da PUCRS, que eu posto neste espaço.
ResponderExcluirEm minha "A poética do Conto", à página 55, escrevo: "No final da década de 40, Jorge Luis Borges, então secretário de redação da "Revista Anales de Buenos Aires", recebeu a visita de um jovem estranho, que lhe trazia um conto inédito, manuscrito, para leitura. Além da insólita altura do autor, impressionou-o a qualidade do relato. E assim, com a publicação de "A casa tomada", nascia O escritor Julio Cortázar."
Em que pese o exagero da comparação e da analogia, sei que o autor que revelo hoje, este Vilson Ortiz que ninguém conhece, será grande, muito grande. Este rapaz, se quiser, e se a Moira lhe permitir, será o nosso Kafka, o nosso Cortázar.
Charles Kiefer
Valeu brother!!!!
ResponderExcluirVilson sempre gostou de escrever e desenhar. Desde pequeno fazia estórias em quadrinhos muito interessantes, criando inclusive um personagem, chamado "Natinho".
ResponderExcluirAgradecemos as palavras motivadoras e esperançosas ditas pelo mestre Charles Kiefer, referentes ao futuro de Vilson Ortiz como escritor. Sem o incentivo de quem representa a intelectualidade universitária é muito difícil uma mente criativa tornar-se conhecida. Eis a oportunidade.
Que tu Vilson desenvolva teu potencial levando-o ao encontro dos anseios de leitura para o século XXI.
Dos teus pais que te amam e admiram, Maria Alice e Vítor.
Hm!!! Muito bom !! Uma historia super engenhosa criativa e improvável, parabéns !!!
ResponderExcluirConviver com uma pessoa dessas não é para qualquer um! É interessante que pessoas como ele são desacreditadas por muitos. Esses tipos de escritores,a princípio, são desdenhados, deixádos para lá como se fossem loucos ou vagabundos. Um dia, alguém como o professor Charles Kiefer, dá o reconhecimento necessário pra essa gente "dita louca" e, então, esses loucos anônimos dão os primeiros passos para brilhar. Bom, daí já sabem, risos, todos os hipócritas que desdenhavam de repente passam a louvá-los. Só tendo um olhar de inseto transmutado em ser humano para ver essa vida mundana de outra forma. Parabéns meu nobre colega! Nós sabemos que "fugas de feiticeiros" são necessárias para encarar a vida todos os dias. Daí o resultado.... Márcia Mello...
ResponderExcluirEscrever é cortar - editar. Na era da informação em tempo real, o romance torna-se problemático devido a sua longa duração. Daí minha opção pragmática pelo conto - um tributo ao século. Charles Kiefer me ensinou a compreender a narrativa de ficção através de uma perspectiva estrutural. Assim "A rapsódia de um inseto" tornou-se possível. Afinal, os quase vinte anos passados na história, narrados linearmente, pediriam um romance ou, no mínimo, uma novela. O recorte temporal da história era muito longo para o formato do conto. Antes de cursar a disciplina de escrita criativa, na PUCRS, não teria como solucionar esse problema. Então, recorri a um procedimento da narrativa histórica: a problematização dos recortes temporais. Cortei a história em três tempos - com três narradores distintos. Deixei a conecção entre esses recortes ao sabor da imaginação do leitor. Porém, devo alertar o leitor: a história remete à desertos oníricos - e não possui qualquer teor edificante. O texto é crítico. Contudo, alguns colegas da faculdade de história interpretaram minhas palavras como críticas ao capitalismo. Sinto decepcioná-los, mas trata-se de uma crítica existêncial - voltada à pessoa atemporal. Escolhi a época contemporânea para facilitar a recepção do leitor. No entanto, o texto poderia se passar no Império Carolíngio, na Grécia de Platão ou no Egito de Ramsés II - e, portanto, muito antes do capitalismo ser sonhado como mecanismo de poder.
ResponderExcluirVilson Ortiz (o autor)
Vilson Ortiz, além de um grande amigo e parceiro musical é um artista em constante construção e desconstrução. Seu conto "Rapsódia de um inseto" é instigante, singular e atemporal. Parabéns Vilsinho!
ResponderExcluirQueremos + contos!
Grande abraço,
Leo Jesus
Confesso que buscava outros significados da palavra "rapsódia" quando me deparei com o blog e o conto... fui capturada e não consegui parar a leitura sem finalizá-la. Compreendi perfeitamente sobre a crítica existencial atemporal...e me deliciei com a narrativa. Obrigada, parabéns e sobretudo: continue.
ResponderExcluirRejane