Clandestina
Nunca tive as imunidades
necessárias para transpor
fronteiras: contrabandeio idéias
Sempre faltou uma marca
que ainda não houvera sido feita
E tive medo, todas as vezes
quando a procuraram
Bem cedo tentaram forjá-la,
riscá-la sem fogo mas com força
nas peles de dentro para fora:
sou tão ruim que nem
cicatrizes crio, me disseram
Hoje aceno aos guardas
porque permitem-me
as passagens. Não carreio
pestes: sou outro tipo
de clandestina
Gavinhas
O pai tinha umas vezes
uns arroubos de árvore
que se pensa eterna e
discursava claro
de dentro da esfera
Quase-mel-quase-verde
dos seus olhos
(eram olhos líquidos como o vinho)
Tinha umas coisas de
colono, depois do sermão
do padre
Ou de oleiro que
se pensa Criador,
após modelar para mim
um estranho boneco
de barro
Um dia,
debaixo das videiras, disse
- minha filha,
isso tu nunca que adivinha:
eu olho para as parreiras e
teus cachos têm
a mesma forma das gavinhas
domingo, 17 de maio de 2009
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Não fosse a excessiva timidez, Cecília Cassal já teria alçado voos mais altos, publicado livros, conquistado legiões de leitores. Publico-a aqui para provocá-la, para fazê-la ver que seus poemas não devem nada aos grandes poetas que andam por aí...
ResponderExcluirCharles Kiefer
Lindos poemas...
ResponderExcluirCecilia,
ResponderExcluirSaudade eu estava de teus poemas. Emocionantes os dois, o pai sob a videira é encantador.
Muito bom te ler por aqui.
beijos
Que lindos... Eu que também tive o privilégio de conviver com ela também reforço isso tudo que foi dito. Cecilia, tu já faz poesia com teu olhar...
ResponderExcluirBeijos!
Charles,
ResponderExcluiracho que acertaste em cheio: é timidez excessiva, sim. Mas também uma severa senhora que mora aqui dentro e diz ainda não estar na hora, ainda não estar pronta... Uma outra coisa é certa: teu estímulo desde a primeira aula (e lá se vão mais de cinco anos)foi o que me fez achar que valia o risco de catar e depois lapidar a Palavra. Obrigada pela oportunidade, sempre.
Monique e Luciane, queridas. Vocês e seu constante estímulo! Delícia.
Beto Canales, obrigada pela leitura.
Abraços, feliz de estar aqui pela excelente companhia que me foi dada.
Cecília,
ResponderExcluireu nunca havia me dado conta disso: somos todos uns contrabandistas nessa fronteira entre realidade e fantasia!! Grato pela denúncia. Excelentes poemas.
Abraço do Juarez.
Cecília querida, cada vez que te leio penso por que não tive a idéia dessa metáfora tão linda. Mas não te preocupa, é inveja sadia, amorosa. Quanto à senhora que vive dentro de ti, queres uma sugestão? manda ela calar a boca e cai no mundo. Um beijo grande, ana
ResponderExcluirCecília!
ResponderExcluirQue tua clandestinidade seja sempre encomberta de veros, tipo este olhar que nos invoca...'olhos líquidos como o vinho'... versos precisos e certeiros.
Um abraço.
Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br
Os versos de Cecília esbanjam delicadeza. É sempre ela própria, transbordando poros afora a beleza infinita do seu sentir poético.
ResponderExcluirbjjjj
César Azevedo