MUSA DE ARGILA
Disforme, por entre os dedos
Deslizas, matéria-prima.
Escorrem abaixo e acima
Teus excessos, meus segredos.
Na silhueta frágil e macia,
Nômade, navego milhas
Criando-te novas trilhas
A moldar minha fantasia.
Da lama te faço vida
Sabendo que vais embora.
Nem quero pensar agora
No instante da despedida.
Vai tua imagem, fica o rancor.
É só dinheiro o que me sobra
Da matéria, já feita obra
No ofício de escultor.
DE INTEIRO A METADE
Andou um tanto distante
Do caminho habitual
Imutável nada breve
Na terra plana e arada
Deixou o inerte gemido
Apagou culpa e pegadas
Do fastio criou desejo
Do deserto fez um rio
Traçou ambígua aventura
Provou o golpe repetido
Ao reinar em solo alheio
Seco em laços e governo
Arredou vales e montes
Em busca do que levava
O tempo todo consigo
E só faltou entender
Voltou tardio ao abrigo
Sinal vermelho na porta
Colou o rosto na escuta
E ao silêncio abandonou-se
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Como quem não queria muita coisa, como quem não acreditasse muito em escrever, César Azevedo chegou às minhas oficinas. No começo, pareceu-me que estava ali mais para conhecer a própria literatura do que para fazê-la. E aos poucos, também como que não quer muito, vai se transformando num bom contista e poeta. Já ganhou prêmios e a cada dia seu verbo fica mais certeiro, mais exato. César sabe que a poesia é um "tour-de-force", e que o poeta arreda vales e montes em busca do que quer. E que, às vezes, a linguagem salta, como fera no escuro, sobre o poeta.
ResponderExcluirCharles Kiefer
Correção: Onde se lê "também como que não quer muito", leia-se "também como quem não quer muito".
ResponderExcluirLindos, César. Que honra poder ter dividido contigo por um bom tempo esse teu dom e tua doce companhia. Beijo e parabéns a ti, poeta!
ResponderExcluirCada vez que é postado, neste espaço, conto ou poema de algum companheiro de turma, tenho vontade de correr pra janela e gritar pra vizinhança: "sou colega desse cara, gente!!" Está sendo assim, agora, César. Parabéns pelos dois belos poemas, tão bons de reler e rever e degustar.
ResponderExcluirAbraço do Juarez.
César querido, o Kiefer definiu bem o teu jeito de quem não quer nada, querendo tudo , um toque mineiro, "cabeça baixa, orgulhosa", quem dera todos fizessem poesia com o cuidado e a seriedade com que tu fazes. Um beijo, ana
ResponderExcluirCezar, parabéns!!!!!
ResponderExcluirAs imagens que vc MOLDA são lindas, inteiras, e nunca metade.
Charles, parabéns!!!!!
A idéia do blog é ótima. Não tinha conseguido acessar ainda. GOSTEI MUITÍSSIMO.
Como o Juarez, também fico orgulhosa de compartilhar contigo as aulas de sábado. Beleza, César.
ResponderExcluirbeijos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaro escultor, tava na hora! Vai, vai te soltando que tu vai longe. Nem presta. Sai do casulo que tu arrebenta. Tô orgulhoso do amigo.
ResponderExcluirGostei muito ,também!
ResponderExcluirNão conheço o César como todos os amigos que, antes de mim, postaram seus comentários, mas nem por isso me privarei de dizer o quanto suas palavras encantam, fluindo suavemente, apesar da intensidade do texto.
Parabéns aos dois: ao primeiro, pela criação e ao Kiefer, pela oportunidade da leitura!
Um abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir